quarta-feira, 13 de outubro de 2021

A igreja dos ateus

 

Texto de autoria de Rogério Geraldo Lima, empresário, redator e radialista, Palmeira.

Postada no Portal NCG.news em 14/10/21 e no Portal aRede em 10/11/21, publicada no Correio Carambeiense em 16/10/21 e no Diário dos Campos em 13/07/2022.

 

Operários pobres e, invariavelmente, condenados à pobreza podem trabalhar na construção de bancos e prédios luxuosos, sem contradições. O que pode gerar contradição aconteceu em Palmeira, precisamente na localidade de Santa Bárbara.

O ano: 1922. Personagens: cinco italianos, os irmãos Cafiero, Eliseo e Spartacus Corsi e os irmãos Alfredo e Emílio Dusi, descendentes de italianos da experiência anarquista da Colônia Cecília, ateus por convicção. Foi o quinteto que conduziu as obras de construção da igreja da localidade, habitada por imigrantes poloneses e seus descendentes, fervorosamente católicos.

Como a velha igreja de madeira, construída 30 anos antes, já se mostrava acanhada para acomodar os fiéis visto que a comunidade crescia , por iniciativa do padre Teodor Drapiewski 60 famílias assumiram o compromisso de colaborar na construção de uma igreja nova, maior e em alvenaria. Assim que o templo de madeira foi demolido, começou a obra da nova igreja, em março de 1922, sob a regência dos italianos ateus.

Em regime de mutirão chegavam ao local carregamentos de pedras, tijolos, areia, cal, madeira e telhas transportados em carroças e carroções. Em meio às obras, padre Teodor foi compulsoriamente transferido para Curitiba sob suspeita de mau uso dos recursos para a construção da igreja. Em substituição, chegou o padre Estanislau Cebula, que deu continuidade às obras. Mesmo inacabado, o novo templo era frequentemente utilizado para celebrações religiosas, inclusive casamentos.

A igreja foi construída seguindo o estilo arquitetônico tradicional dos templos poloneses, com uma torre frontal alta e em formato de cruz. No altar-mor, a imagem de Santa Bárbara. Acima dela, o quadro de Nossa Senhora de Czestochowa, considerada rainha e padroeira da Polônia.

Com a obra declarada concluída, um fotógrafo foi chamado para registrar o fato, imortalizando a imagem que mostra o novo templo e, à frente dele, os construtores: os Corsi e os Dusi.

Em dezembro de 1922 aconteceu a inauguração da igreja, com ato solene e presença de inúmeras pessoas, incluindo visitantes vindos de diversas comunidades da região. Os padres Teodor e Estanislau celebraram a missa. Foi um dia de festa e de comemoração para a comunidade católica de Santa Bárbara, mas os construtores do novo templo não compareceram. Certamente comungavam a alegria de beber um bom vinho, comprado com o dinheiro que ganharam honestamente construindo a igreja, dando vazão à sua alegria por mais uma obra concluída.

6 comentários:

  1. Parabéns Rogério por tão linda e histórica a sua crônica! É maravilhoso poder conhecer a história da região por meio de textos e de pessoas que se preocupam em preservar a memória da sua localidade!"Um povo com memória, escreve sua própria história" Sou a Professora Maria Regina Martins Gelchaki de União da Vitória!

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    1. Obrigado, Regina! Sem dúvida, nossa rica história merece e a participação do povo na construção dela mais ainda.

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  2. Talhada com esmero sua crônica, Rogério. Parabéns!

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  3. Excelente crônica! Muito interessante. Parabéns!

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    1. Obrigado, Rosicler! Seus textos também são escritos em alto nível. Parabéns!

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