Texto de autoria de Aline Sviatowski, estudante, Ponta Grossa.
Publicada no Correio Carambeiense em 14/08/2021 e no Diário dos Campos em 25/08/2021, postada no Portal D'Ponta News em 15/08/2021, no Portal aRede em 01/09/2021 e no Portal CulturAção em 23/08/2022, lida na Rádio Clube e postada no Portal da Mareli Martins em 11/03/2022 e 26/11/2022.
O vapor das revoluções, o vapor das indústrias, é também
o vapor que locomoveu e transportou as pessoas nos dois séculos passados. A
termodinâmica envolvida trouxe, também, os imigrantes a essas terras quase
esquecidas.
A Maria protagonizou histórias que não caberiam em mil
livros. Em suas fumaças, deixava retornar à atmosfera a molécula essencial da
vida. Mas não só! Também evaporavam os momentos ali dentro vividos. A magia do
trem – vibração, imponente barulho, cheiro característico, espera, maquinista.
Para além da quase mágica experiência em trilhar um
caminho, literalmente; as marcas das memórias de um sábado em 1965 permeiam as
conexões neurais dos envolvidos. Guaragi, dos colonos alemães, poloneses e
russos, também era Guaragi dos peixes.
Os dentes da locomotiva rastejavam rente aos trilhos,
vorazmente aproximando-se dos Campos Gerais. Assim, os três filhos de
imigrantes poloneses e um menino de sete anos partiram na Maria rumo a Guaragi.
Carregavam a vara de pescar e um lanche modesto.
Dia findo, os peixes esquivaram-se todos. Como diria a
música do Tremendão, também de 1965, “não quiseram cooperar”.
Na volta da Maria, os três irmãos jogaram-se no vagão. A
locomotiva aumentava a velocidade, as rodas giravam cada vez mais rapidamente.
A fumaça era cada vez mais exalada e riam os três sentados no vagão. Mas algo
faltava.
O menino. Correndo contra os últimos raios solares na
beira dos trilhos. Seu pai mordia um pedaço de palha e olhava o céu, dentro do
vagão. Quando superando os altos sons do trem, um grito de seu irmão o retirou
da meditação contemplativa.
“Olha lá o Carlinhos!”, gritou um dos tios. O menino
corria de cabelos esvoaçantes, como se sua vida dependesse das suas pernas
largas e finas.
“Carlinhooooooos”.
E as mãos em atos desesperados, desses gestos que as
chacoalham em detrimento da angústia, buscavam alcançar o leve e raquítico
menino. Antes de um obstáculo impedir que alcançassem o menino, agarraram-no.
Após alguns instantes, evaporado o suor, recobrado o
fôlego e em tom de calmaria, o pai sussurra ao menino em tom ameaçador: “Não
conte NUNCA para a sua mãe!”.
Feito vapor, o segredo esvaiu-se pela atmosfera.
Maria-fumaca, mesmo parada, sempre carrega consigo uma boa e inesquecível história: como essa, "Maria-fumaca do Guaragi", que gostei de ler...
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