Texto de autoria de Carlos Mendes Fontes Neto, Engenheiro Civil, Ponta Grossa.
Publicado no Diário dos Campos em 04/11/2020, lido na CBN Ponta Grossa em 11/11/2020, postado no Portal aRede em 25/11/2020.
Quem
se lembra da Bomboniere Aurora? Ficava
próxima do Campus Central da Universidade, lá pelos idos das décadas de 70, 80
do século passado. Bem ali onde a Júlio de Castilho cruza a Cel. Bittencourt. Local de matar o tempo entre as aulas, e de
quebra atrair a vizinhança que ali achava socorro para alguma necessidade de
última hora.
Era
um prédio térreo de esquina, nos moldes antigos, com mansardas no telhado, e com
uma pequena panificadora tocada pelo marido da proprietária, D. Mafalda. Apresentava
um balcão com gêneros de primeira necessidade, doces, chocolates e num canto um
charmoso balcão revestido de fórmica marmorizada, cujos bancos lembravam drugstores de filmes dos anos 50, onde eram
servidos lanches.
E
ali na pontinha do balcão, sempre uma pilha do Ponta a Ponta, misto de folheto literário e agenda das lides culturais,
onde navegavam talentos que despontavam na escrita local, de circulação
gratuita. Afinal a Bomboniere também era cultura.
A
Bomboniere Aurora reinava soberana na vizinhança, nessa época ainda pacata.
Vizinhança composta de famílias e algumas repúblicas de estudantes. Alguns
personagens, bastante peculiares, compunham esse entorno. Tais como a velhinha
chamada por todos de D. Boneca, mesmo que em nada lembrasse uma, que morava de
frente para a Bomboniere e podia sempre ser vista controlando o movimento.
Pouco acima, na Cel. Bittencourt, a casa de D. Jovina, simpática senhorinha que
sofria com grandes nevralgias e usava sempre uma manta de lã enrolada na cabeça,
pois achava que isso atenuava os sintomas. Comandava um pensionato para
estudantes, abrigando quase exclusivamente estrangeiros. Eram bolivianos,
peruanos, paraguaios, salvadorenhos, todos irmanados sob o mesmo teto. Mais acima,
em uma casa de fundos, uma circunspecta família ucraniana de Prudentópolis. Na
quadra de trás da Bomboniere, uma austríaca de Viena instalada
numa casa paranista, cuja estranha característica era ter sempre as janelas
venezianas cerradas, ao lado da Luterana, onde se ouvia às vezes o ensaio em
alemão do coral.
Quase
uma Nações Unidas nos Campos Gerais!
O
tempo correu e a Bomboniere não existe mais. No seu lugar, mais um espigão! A
casa paranista cedeu lugar a um terreno baldio, D. Boneca não espia mais o
movimento, os estudantes estrangeiros há muito retornaram aos seus países, engenheiros,
farmacêuticos, dentistas... Quem passa hoje pela esquina onde ficava a Bomboniere
não imagina a riqueza humana e a pluralidade que por ali existiu.
Carlos, seu texto reavivou recordações, já guardadas no olvido, da Bombonière Aurora. Eu estudava no mesmo colégio que a filha da D. Mafalda e, ao término das aulas caminhávamos até ali. Ela entrava em casa e eu seguia em frente. Muitos anos depois, quando buscava meus filhos no Colégio,costumávamos entrar ali, duas vezes na semana para um lanche: suco de laranja natural e torta de requeijão. As crianças esperavam ansiosas aqueles dias especiais de lanche na D. Mafalda.As cercanias, como bem registrou, era a sucursal da ONU. Parabéns pela ideia de retratar esse endereço saboroso.
ResponderExcluirMarlene Castanho
ResponderExcluirCarlos Mendes, obrigada por esse passeio retrospectivo a bodo da sua inesquecível "A Bomboniere Aurora". Uma interessante leitura, com gosto de quero mais...