Texto de autoria de Róbison Benedito Chagas, professor aposentado do Curso de Letras da UEPG.
Publicada no Diário dos Campos em 02/09/2020 e no Correio Carambeiense em 05/09/2020, postada no Portal aRede em 09/09/2020, lida na CBN Ponta Grossa em 14/10/2020.
"abre-te sésamo!" é com a expressão do meu primeiro livro infantil que abro as portas da crônica, essa casa tão distante de mim. "abre-te sésamo!" a viagem mágica começa em guaragi, na estação de trens, nos pastéis da nhá purfa, quando vínhamos "para a cidade". nos trens de guaragi que minha mãe me mostrou todas as cidades do mundo dentro dos campos gerais. viagem longa. uma hora e meia no balançar dos trilhos. a cada segundo um país, cidades, árvores, rios, pessoas acenando da beira da linha. a mãe nomeava as coisas. um capão de árvores velhas e frondosas era a floresta negra. estamos na alemanha. ao longe o monte fuji. veja o sol, meu filho, é o país do sol nascente. um barranco alto e estávamos em portugal. ali é trás-os-montes, ouça filho, o canto dos camponeses colhendo uvas. depois a espanha, pequenos sítios com gado e ela dizia: touradas! as vacas que pastavam eram touros sanguinários para mim. na estação do roxo-roiz, avistava a tia do pelé (do pelé de guaragi). vendia jabuticaba, butiá, mexerica, peixe frito. aqui é um país de muito comércio, é o marrocos, depois a turquia. eu só sorrisos quando a mãe comprava amendoim com casca. a viagem seguia. e eu só tinha três anos. próximos à ponte do tibagi, cheia de orgulho, informava: filho, essa é a ponte de londres, linda e longa. sentado em seu colo, meu olhar fixo era para as águas, ainda límpidas, era 1960. o trem apitava. a fumaça ficava para trás. histórias se esvaiam. outras nasciam. árvores, casas, países. polônia. áustria. cidades. varsóvia. lisboa. praga. eu não entendia esse nome, meio palavrão. mas eu só tinha três anos. istambul. cairo. nova délhi. pra lá de bagdá. tantas cidades na minha cidade. e a cochinchina, mamãe, já passamos? a vida ia pelo rio de janeiro, pelo belo horizonte. uma hora e meia de trem. da escócia à noruega, à rússia, tão misteriosa. a mãe com tantas histórias, mas só a paisagem me interessava. o universo geográfico crescia nos meus campos gerais. dos "poentes de minha terra", de certa anita philipovsky, ao caminho das tropas. à tão distante castro de tantos sapos. tantos países. passados quase 40 anos, na volta do campus de palmeira, uma colega sempre dizia, perto da ponte do tibagi: "ponta grossa, iluminada, parece paris". saudade do trem. ali em frente é paris. de guaragi a ponta grossa, o mundo, até ali babá e os 40 ladrões. mas eu só tinha três anos. hoje, 60 anos depois, viajo, ainda menino e minúsculo.
Muito bom , parabéns!! Eu realmente viajei e ilustrei em minha mente cada palavra e cada país dentro de minha querida e amada Ponta Grossa.
ResponderExcluirQue lindo!como é bom lembrar e ainda tão bem
ResponderExcluirescrito eu leiga admiro quem tem o dom de prender na leitura adorei.
Que beleza de texto professor, realmente, um mundo dentro de um texto. Imagino a emoção da viagem ao passado, as lembranças para essa construção. Parabéns!
ResponderExcluir☺👏👏👏👏👏 Viagei junto nesse vagão com essa linda crônica, parabéns Robson...
ResponderExcluirParabéns amigo querido! Sempre nos encantando e nos levando a viajar no universo das palavras. 😍
ResponderExcluirAngelita
É um presente usufruir das recordações assimiladas por uma criança que guarda um tesouro. Em cada trecho da viagem de trem, um mundo preservado. O autor, evidencia a saudade do trem, da viagem e reafirma que “ponta Grossa, iluminada, parece paris”. Ele tinha só três anos, mas, sua alma já era de poeta.
ResponderExcluir👏👏👏 que lindo, Robson 🌹😘
ResponderExcluirMarlene Castanho
ResponderExcluirProfessor Robison, que viagem fantástica! Através do seu texto "minúsculo", tive a oportunidade de me encantar diante os diversos países, dentro dos Campos Gerais,pelos quais o seu trem mágico percorreu. Linda crônica! Parabéns!
Que lindo, Professor Róbison, voltei ao passado... não somente por sua memória, mas também por esta oportunidade única, de relembrar tuas aulas, lá no Colégio Santana. Agradeço!
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