segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

A música da vizinhança

Texto de autoria de Mário Francisco Oberst Pavelec, técnico em agropecuária, natural de Palmeira, residente em Ponta Grossa.

Postado no Portal aRede em 29/01/2024, publicado no Diário dos Campos em 06/12/2023, e no Jornal Página Um em 01/03/2024.

Meus vizinhos não respeitam os horários. Tem alguns que começam logo cedo, algumas vezes antes do nascer do sol, outros alongam sua cantoria até ao anoitecer. Uns são mais repetitivos, outros mais tímidos, alguns mais agressivos e outros mais mansos.

Dentre meus vizinhos, o seu João é um dos mais tímidos. Canta pouco, quase sempre é difícil distinguir suas melodias, mas é um excelente construtor. Tem várias casas no bairro, e sempre é requisitado para mais uma construção.

Já o Bem, este é um cantor e tanto. Sua voz ecoa pelas Uvaranas, já logo cedo. Potente e sonoro, seu canto é bem definido, audível e sua voz é inconfundível. Porém é um fofoqueiro contumaz, denunciando a qualquer um que passe em sua frente.

O Sr. Laranjeira, cuja voz já é mais aguda, inúmeras vezes faz dueto com o Bem, e espalham uma ópera matinal que desperta os outros vizinhos. A perfeição impera. Cantam e encantam a grande maioria. Sempre tem gente que não gosta, e fica incomodado com esta sonoridade toda bem de manhãzinha.

Tem alguns estrangeiros também, os da família Rola e da família do Professor Pardal. Estes são menos agressivos na sua potência vocal, porém sempre se fazem ouvir. Se mostram com muita frequência, durante o dia todo. Mas como são muitos, revezam com tranquilidade do amanhecer ao anoitecer.

O canto dos Curucacas, outra família que reside aqui próximo e escolhe os pontos mais altos do bairro, atravessa a sinfonia com seu grunhido grave, esganiçado, longo e repetitivo, fazendo as vezes da percussão nesta orquestra silvícola. Já vi também, nesta faina, o Sr. Tucano, que, sem vergonha, faz o contraponto aos Curucacas, sem perder o tom.

Tirivas e Canarinhos compõem esse grupo da percussão com seus sons mais agudos, como se fossem uma “segunda voz” mantendo o ritmo e a melodia. Sempre entram nos tempos exatos, recheando a música, e destacando a voz dos solistas.

Dizem que “se quiser ouvir o canto dos pássaros, não os prenda em uma gaiola, plante árvores”. Bem isso que fiz. Desde que mudamos da Vila Oficinas para o São Francisco, nas Uvaranas, produzi e plantei algumas mudas, que hoje já começam a frutificar. Romã, Pitanga, Araçá, Goiaba, Amorinha, Café, além de um Jambeiro que já existia no terreno. Estas já proporcionam sombra e atraem esses vizinhos canoros. Além disso, a florada atrai abelhas que zunem em um contínuo fundo musical, ímpar, que preenche as pausas do compasso dessa revoada.

14 comentários:

  1. Parabéns. Crônica super legal

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  2. Com uma vizinhança como essa a vida fica mais alegre. O canto dos sabiás é lindo e aqui.eles também são meus vizinhos. Crônica leve e gostosa de ler.

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  3. Meus vizinhos são uns amores!!!!

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  4. Que maravilha de vizinhança!👏🏻

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  5. Uau.... Tens a melhor vizinhança..... Alguns primos dos seus vizinhos passam por aqui também... Cantam e encantam assim como seus contos.... Ameiiii.🌹

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  6. Crônica leve, gostosa de ler. Parabéns! Aqui em casa, também tenho o prazer de escutar logo cedinho os sr. Bem, o sr. Sábia. E uma sinfonia de Pardais, como diz a música...

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  7. Pior são os humanos, com musicas de baixa categoria.

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