segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Nunca gostei de pescar

Texto de autoria de Mário Francisco Oberst Pavelec, técnico em agropecuária, natural de Palmeira, residente em Ponta Grossa.

Postado no Portal aRede em 26/12/2023, e publicado no Diário dos Campos em 08/11/2023.

Tem um ditado popular que diz “tá estressado, vai pescar”. Infelizmente comigo não funciona. Porém, meu pai era um pescador contumaz. Raramente comia o peixe, mas não perdia uma oportunidade de molhar as minhocas.

Nas quartas-feiras, entre primavera e verão, o rio Caniú era o preferido dele. Descíamos até a Colônia do Lago, por volta das seis da tarde, quando ele saía do trabalho, com o liquinho (lampião a gás), ficávamos até por volta das oito horas da noite “tentiando” os bagres e os lambaris para ver se algum ia para casa conosco. O placar, quase sempre, zero a zero. Saíamos da beira do rio e íamos direto para a JAP tomar um banho de sauna com o Seu Adão, que nos esperava com o fogão de pedras bem quente.

Nos sábados, não raras vezes, íamos para Porto Amazonas, no portinho, na fonte, na balsa, ou na mesa de pedra, para passarmos o dia. Quase sempre ele levava algumas cervejas, refrigerantes, pão, queijo e alguma salada, que satisfazia plenamente seu vegetarianismo. Aliás, tenho mais coisas para contar sobre a mesa de pedra. A seu tempo.

Nos domingos, o passeio era no Recanto dos Papagaios, na BR 277. Enquanto a criançada divertia-se no Rio dos Papagaios, meu pai, com seus caniços, divertia-se enganando lambaris, carás e os bagrinhos fluviais. Nunca soube ao certo quem enganava quem.

Onde me encaixo em tudo isso? Nunca gostei de pescar, tinha e tenho verdadeiro tédio em relação a estar à beira de um rio com um caniço nas mãos. Porém, tinha verdadeira adoração naquele homem que mancava com a perna direita, pouco cabelo, e cujo passatempo e relaxamento preferido era a pescaria. Nunca fui pescar, mas sempre fui acompanhar meu pai em suas aventuras.

Estar com ele, passar em conjunto alguns momentos de paz e tranquilidade, pelos seus preceitos, era, para mim, o ápice de um relacionamento afetivo entre pai e filho.

Tirar as minhocas, naquele canto preparado no fundo do quintal de casa, arrumar as varas, colocar os anzóis, chumbadas, boias e penas, arrumar as tralhas para que nada desse errado, eram momentos ímpares, deliciosos, curtidos pelo pequeno garoto que gostava de estar com seu pai.

Quantas vezes deixei os caniços na beira do rio, sem isca, para não ter o trabalho de sondar se os peixes haviam mordido o recheado anzol e ficava perto de meu pai, assuntando, afim de entender o mundo e a vida. Ele, às vezes me dizia: “fica quieto, piá, senão espanta os peixes”.

Levar para casa um ou dois lambaris ou carás era a verdadeira glória!

12 comentários:

  1. Parabéns pelo texto singelo e amoroso. Meu pai era pescador, mas eu não teria paciência necessária para esperar o peixe morder o anzol. E à beira de rio sempre tem pernilongo. Deus me livre!

    ResponderExcluir
  2. Passar o tempo com quem amamos é sempre gostoso. Grato, Sueli.

    ResponderExcluir
  3. Visualizei a cenas e os cenários... Muito bom relembrar 😃

    ResponderExcluir
  4. Nem sabia que o Tio Mário gostava de pescar.

    ResponderExcluir
  5. Parabéns pela crônica.......
    Pescar é um bom esporte e diversão......estar junto com o pai, será sempre marcante. 🙏🙏

    ResponderExcluir
  6. Parabéns pela crônica! Suas histórias lembram muito a minha infância.

    ResponderExcluir
  7. Meu pai gostava muito de pescar. Daqueles que levantava de madrugada para ir pra beira do rio ou da lagoa, para chegar primeiro no melhor pesqueiro, e só voltava à noitinha. Mas nessas as crianças não podiam nem queriam acompanhá-lo. Às vezes fazíamos piqueniques, no Caniú, também. Mas lavar minhoca nunca foi minha predileção, também.

    ResponderExcluir
  8. Eles foram de outra geração. Nossos filhos, sobrinhos, etc também terão suas diferenças com nossos passatempos!

    ResponderExcluir

Pedimos aos leitores do blog que desejem fazer comentários que se identifiquem, para que os autores conheçam sua origem.

Adoração da Cruz

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes , Professora de Português e Inglês, residente em Ponta Grossa.           Já escrevi c...