Texto de autoria de Jeferson
do Nascimento Machado, professor da rede pública, historiador, residente em
São João do Triunfo.
Ali naquele pequeno recanto rural,
situado na urbe de Imbituva, denominado de Jararaca, vivi parte da infância e
da adolescência. Eu e outros três irmãos revirávamos as florestas locais,
encontrando cachoeiras, cavernas e locais de mata semi-virgem. Era sempre uma
aventura, uma afirmativa da vida, um ato corajoso diante do desconhecido.
Mas, algo que nos chamou bastante
atenção foi a descoberta de um lugar peculiar que, aos olhos da comunidade
local, era um amontoado de restos e entulhos, que atraía todo tipo de urubu, de
ratos e de homens-gabirus. Porém, para nós – os quatro irmãos – era um
verdadeiro tesouro: o lixão.
Esse local ficava distante de onde morávamos.
Em verdade, ficava em outra comunidade, denominada de Cachoeirinha. E este
lugar, tornou-se para nós um lugar de possibilidades e descobertas. Era ali que
encontrávamos livros, revistas, materiais escolares e, claro, brinquedos. Os
bonequinhos Power Rangers, com suas cores vibrantes e superpoderes, eram
os nossos favoritos.
Mas esses brinquedos não eram como
aqueles das crianças abastadas. Aliás, eram brinquedos quebrados, esquecidos e
descartados. Mas, para nós, cada pecinha tinha valor inestimável e, com
paciência e habilidade, fazíamos nossas gambiarras.
Na verdade, era um desafio criativo para nós. De três ou quatro brinquedos que encontrávamos, criávamos um só. Assim, nosso Power Ranger ficava com um braço verde e outro azul, a cabeça rosa e o corpo vermelho. Era um brinquedo autêntico e genuíno, que tínhamos orgulho em mostrar para nossos amigos.
E assim, à semelhança das plantas que teimam a nascer e florescer em meio ao lixão, nós também desafiamos a escassez de recursos e, somado a um punhado de sorte e outro tanto de vontade, conseguimos fazer emergir humanidade em meio aos escombros da sociedade.
Jeferson, você e teus irmãos foram então os precursores dos caçadores de tesouros.
ResponderExcluirHaha! Sim, sim! Só não tínhamos o detector de metal.
ExcluirObrigado pelo comentário!
A literatura é curiosamente memorável. Lembrei-me do "lixão do Pedroca", perto da nossa roça no Cará-Cará/Ponta Grossa, onde eu e minha irmã coletávamos carrinhos e bonecas nos anos 1960. Amei sua escrita Jeferson! ALFREDO MOURÃO
ResponderExcluirMuito obrigado, Alfredo Mourão! E fico contente que tenha gostado da crônica.
ExcluirO que não serve prá um serve para outro. Os que os descartaram provavelmente ganharam novos brinquedos e você e seus irmãos, de certa forma, também "ganharam"
ResponderExcluirnovos brinquedos, com a vantagem de terem sido montados por vocês mesmos.