segunda-feira, 20 de março de 2023

Noite tumultuada

Texto de autoria de Dalton Paulo Kossoski, auxiliar de bibliotecário e contador de histórias na Biblioteca Municipal de Ponta Grossa.

Postado no Portal aRede em 21/03/2023, no Portal CulturAção em 11/07/2023, e publicado no Diário dos Campos em 03/05/2023.

          22 de dezembro de 2022, 19:30. O passeio podia ter ocorrido normalmente e o endereço, encontrado com facilidade, mas não foi bem assim. A viagem começou tranquila, nós conversando com o motorista sobre assuntos do cotidiano e a programação da TV:

“Tá assistindo o Maick, o cantor de Ponta Grossa, no Faustão na Band? É um cantor muito bom! Tá na final já...”

“Não. Eu trabalho o dia todo, nem dá tempo de assistir TV, nem sabia que o Faustão tava na Band agora...”

O carro atravessando as ruas de Ponta Grossa e a gente papeando numa boa. Até que o negócio ficou estranho. Chegar numa rua à noite, no breu total, não é a mesma coisa que de dia.

“Moço! A rua Fagundes Varela é essa mas o número 699 é mais pra cima! Aqui já é dois mil e pouco!” – a mãe dizia, nervosa. “Dalton, ajude a ver os números das casas!”

Mas como enxergar na quase total escuridão? Nós três perdidos: o motorista, a mãe e eu. O GPS do motorista apontava:

“Ó! Tá mostrando que a corrida acaba aqui (no número 2652). E a gente não passou por nenhum 699. Acho que esse número não existe hein...”

Como “não existe”? Nós já tínhamos visitado o Danilo outras vezes!

Depois de muito rodar procurando, o fim da picada aconteceu quando o cara falou:

“Outra cliente chamando, eu vou deixar vocês aqui! A corrida acabou!”

Encostou o carro no meio-fio. Um matagal, sem casa à vista nem ninguém para quem pudéssemos pedir ajuda. A mãe soltou a cartada final:

“Você vai me largar aqui com um filho que não anda sozinho???!!!”

Ah! Aquilo “quebrou as pernas” do rapaz. Ao ouvir aquela frase, ele pôs a mão na consciência e algo mexeu dentro dele.

”Só não deixo vocês aqui porque são gente boa!”

Mais um pouco rodando, naquele clima tenso que se instalou entre nós, o motorista achou o número certo. Foi preciso muito empenho, algumas “puxadas de orelha” da parte do Danilo (que ligou para saber da nossa localização) pra cima do pobre rapaz, que só estava seguindo as instruções de uma inteligência artificial doida e os xingos da outra cliente que esperava um carro que nunca vinha.

O motorista se desculpou, disse que o aparelho nunca havia falhado.

Nos encontramos com os amigos para comemorar o aniversário da pequena Mel. Ao entrar na casa, a mãe pediu um copo d’água para acalmar os nervos.

No fim dessa desventura, deu tudo certo.

4 comentários:

  1. Que delícia ler este texto, Dalton! Foram surpreendidos pela mais moderna tecnologia, mas que também falha. Ainda bem que a "desventura" acabou bem. Parabéns pela classificação esta semana.

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  2. O comentário acima é meu, Sueli Fernandes.

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  3. Com leveza, conseguiu desenrolar o novelo de um drama que não é muito difícil de acontecer, até mesmo durante o dia. Para um passeio virar um transtorno, basta, por exemplo existir um segmento de trilhos desativados criando uma interrupção da via, e a gente não consegue alcançar o trecho da rua onde fica o número procurado, sem dar muitas voltas, como já aconteceu comigo. Parabéns pelo texto!

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  4. Dalton, que belíssimo texto! Gostei de sua narrativa, leve, agradável e do cotidiano como deve ser a crônica! Parabéns!

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