terça-feira, 5 de abril de 2022

Verão de lembranças

Texto de autoria de César Delgado, comerciário, Ponta Grossa.

Postado no Portal Culturação em 12/04/2022, e no Portal aRede em 13/04/2022, publicado no Diário dos Campos em 17/08/2022.

Em um dia atípico de verão em Ponta Grossa, onde se acaba suando na sombra, embora relutando, o dever me faz sair de casa, andando eu na velha e quente Avenida Dr. Vicente Machado, que com o trânsito da hora do almoço parecia tornar a sensação de calor maior ainda; vejo um refúgio do outro lado da via, a suntuosa Igreja do Sagrado Coração, conhecida por "igreja dos polacos".

Ao entrar no recinto do templo, logo vem o frescor, e o encontro com uma atmosfera diferente, quase me esquecendo da correria e da "muvuca" do lado de fora;  sentei-me para não destoar de alguns fiéis, que ali rezavam, e quotidianamente rezam como "guarda de honra" do Santíssimo Sacramento, nesse santuário dedicado a adoração perpétua.

A imponência e a beleza do templo  levam naturalmente a se voltar para ao alto, e a vista a terminar lá no fundo, no altar mor onde fica o trono da adoração. Mas um detalhe desperta minha atenção: ao meu lado esquerdo vejo o quadro de Nossa Senhora de Czestochowa, padroeira dos poloneses, e sinal visível da história e tradição dos imigrantes na cidade. Como não me lembrar das muitas fotografias em preto e branco da minha família materna? Das "estórias da tal Polonhia" e causos a mim tantas vezes narrados? Do “pirogue” e dos pratos típicos na família, ou do som da palavra "caroça" no sotaque inconfundível da minha saudosa e querida avó? Dos costumes muitas vezes herdados que sem perceber repito inconscientemente no dia a dia?

Saudades daqueles que nem conheci, mas que sem dúvida eu não existiria se não fossem eles, ao mesmo tempo que aflora um sentimento de uma terna gratidão e em sua memória. Agora revigorado, no corpo e sobretudo no coração, pego minha bolsa e crio coragem, como meus antepassados, para enfrentar. Já não mais para me mudar para um novo mundo, me adaptar a uma cultura, língua ou país, e nem simplesmente enfrentar um verão atípico ponta-grossense rumo a minha jornada. Mas, sobretudo, de honrar mais e valorizar o seu legado de fé, honra e trabalho.

 

7 comentários:

  1. A lembrança de nossos avós sempre provoca emoções. Os polacos trouxeram seus costumes na gastronomia, nos belos lambrequins, na produção de alimentos e que formam o seu legado em terra tão distante da sua. Parabéns pela crônica! Bem-vindo ao grupo!

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    1. Muito obrigado,bondade sua,agradeço a acolhida.

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  2. Calorosas lembranças, que se transformam em bela homenagem... Parabéns, César!

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  3. Uma igreja é sempre um refúgio. O tempo de dores, dissabores, se dissolve na paz e no silêncio interior. Lindas lembranças suas, e tão lindamente emolduradas na bela arquitetura do templo.

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    1. Muito obrigado, Ponta Grossa é feliz ainda de possuir algumas igrejas históricas e significativas!

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