Texto de autoria de Francielly da Rosa, professora da rede municipal de Ponta Grossa e estudante de Letras na UEPG.
Publicada no Correio Carambeiense em 19/06/2021 e no Diário dos Campos em 27/04/2022, postada no Portal D'Ponta News em 24/06/2021, no Portal aRede em 07/07/2021, e no Portal CulturAção em 20/09/2022.
“Bom dia, Ponta Grossa!” dizia o rádio
anunciando a chegada de mais um dia. As vozes que outrora traziam
boas notícias agora eram temidas. Após ouvir o obituário a avozinha
silenciosamente desligava o rádio, dirigia-se até a televisão e repousava um
pequeno copo de água enquanto esperava o padre iniciar a missa. Em harmonia com
a reza vinda da televisão, um pequeno sabiá, parecendo adivinhar o horário,
pousava em seu portão e, da janela, ela permanecia assistindo aquele gracioso
show.
Em sua casinha sempre recebia a visita dos filhos, netos
e irmãos. Preocupava-se com a situação da pandemia, mas não sabia dizer não às
visitas tão queridas. Incomodados com aquela preocupação considerada exacerbada,
alguns insistiam em convencer a avozinha a não ter medo de um simples vírus, amparando-se
em teorias e boatos equivocados. A pobre senhora juntava as mãos como quem reza
em silêncio e começava a se questionar sobre os fatos que ouvia: “Será?”.
Pela janela via a vizinhança movimentada andando
tranquilamente pelas ruas, sem máscaras, sem preocupações, sorridentes e
confiantes. Aos poucos viu a cidade
iniciar um de seus momentos mais delicados da pandemia, os hospitais cheios,
o longo obituário passava a ter rostos
conhecidos, as recomendações eram rebatidas raivosamente pela população. Cada
dia mais ela tinha certeza da escolha que fez: acompanhava a vida pela janela.
E permaneceu em sua casinha, cuidou-se como pode, cuidou
de seus próximos, aconselhou. Porém em uma manhã sentiu-se mal, algo que sentia
há dias, porém não se incomodou com isso. Abriu a janela e percebeu que o ar custava
a entrar, tentou respirar fundo, mas era difícil, fechou os olhos por um
minuto, ouviu o cantar do sabiá no portão, sentiu os raios de sol acariciando-lhe
a pele, olhou pela janela as crianças brincando, os vizinhos festejando e
pensou: “Será?”.
Amanheceu mais um dia, a janela não se abriu, o rádio e a
TV desligados, o copo no armário, os filhos chegaram como de costume, mas a
casa desfez-se no silêncio fúnebre da despedida. Assim a família positivou para
o vírus, para o lamento e a culpa e, da janela daquela pequena casinha a vida
já não se vê, restando apenas o cantar do sabiá que canta pra gente acordar.
Francielle, sua crônica descreve bem o que anda acontecendo... A epidemia está ativa e, debaixo de um mesmo teto, não há um consenso quanto aos cuidados de prevenção... Muitas pessoas têm acordado tarde e se deparado com um triste desfecho...
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