segunda-feira, 20 de abril de 2020

Prato do dia: Campos Gerais ao molho de Europa

Texto de autoria de Fernanda Wiegand Mayer, licenciada em Ciências Biológicas, Comunidade Rural de Vieiras, Palmeira.

Lida na Rádio CBN  Ponta Grossa em 21/04/20, postada no Portal aRede em 27/05/2020 e publicada no Diário dos Campos, em 03/08/2022.

Meus avós e eu sempre moramos no campo, numa daquelas casas de madeira estilo “enxaimel” a mostrar nossa descendência de raiz russa/alemã, e muitas de suas nuances características vão além da arquitetura europeia em pleno Paraná.
Na culinária, sempre foram parte do cardápio o pão de bafo (que meus avós chamavam de outra coisa, na língua alemã, e nunca consegui encontrar o significado), o cuque de uva, o pinhão assado na chapa do fogão à lenha nos dias de inverno, os pastéis cozidos de requeijão, ou também chamado de leite coalhado (também com seus nomes especiais em alemão).
Havia a salada de batatas, feita nos dias de domingo, juntamente com as costelas de chão e carnes assadas, as linguiças ou salames, que sempre estavam presentes nos cafés da manhã e da tarde, às vezes acompanhados de torresmo e banha de porco derretida para comer com pão, e o chimarrão, que era o “chá de todos os dias”, sempre antes do almoço e do café da tarde.
Estes fizeram a alegria de minha infância, e era sempre obrigatório um “– Deus que ajude, vó!” (Ou “vô!”, quando era ele o autor culinário).  Após comer qualquer uma de suas delícias e agradecer pelo alimento, meus avós pegavam minhas mãos em forma de “conchinha” e respondiam um “Amém!” ou “Deus te abençoe, ’fia’!”
Hoje, a casa enxaimel já não existe mais, embora tenha perdurado por mais de 50 anos!; minha avó, com seus 83, já não consegue fazer todas estas artes culinárias como antes, meu avô também já se foi... Porém, toda a riqueza cultural, culinária, e o amor que me dedicaram em minha infância são os maiores tesouros que carrego comigo hoje.
As raízes europeias, misturadas a toda diversidade brasileira (a considerar a paisagem única dos Campos Gerais e o pinhão, que é o fruto característico da nossa região), e também com as vertentes gaúchas (como o chimarrão e as carnes assadas), proporcionam um cenário cultural único e belo demais para ser colocado em um simples texto... em outras palavras, estas recordações, e todas as sensações que me despertam, são para mim o que se costuma chamar de “felicidade”.

2 comentários:

  1. Marlene Castanho. Ponta Grossa PR

    Enquanto eu degustava, hummmm,fui relembrando de vários momentos agradáveis pelos quais já passei...E que bom que ainda hoje podemos contar com o carinho uns dos outros, e também experimentar essas misturas de sabores... Fernanda W.Mayer, parabéns, está uma delícia esse Prato do dia...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Marlene! Muito obrigada pelo comentário, fico feliz que relembrou um pouquinho os sabores da nossa região... Abraços!
      Fernanda.

      Excluir

Pedimos aos leitores do blog que desejem fazer comentários que se identifiquem, para que os autores conheçam sua origem.

O tempo é o senhor da razão

Texto de autoria de  Sílvia Maria Derbli Schafranski , advogada e Mestre em Ciências Sociais pela UEPG, residente em Ponta Grossa. Dies po...