Texto de autoria de Marivete Souta,
Professora, Ponta Grossa.
Publicado no Portal aRede em 02/01/2020.
Publicado no Portal aRede em 02/01/2020.
Ela
dá um beijo no filho, manda uma mensagem para a amiga, olha-se no espelho e
encontra lá a menina que ainda habita em si e convive com a mulher madura que
se tornou. Sai... e não volta mais. Tudo foi feito pela última vez. A
efemeridade da vida é um fato, somos passageiros prestes a partir, todavia o
modo como essa vida foi tolhida nos abala porque sua vida esvaiu-se pelas mãos
de quem amou, contrariando tudo que entendemos por amor. Saint Exupéry, em O Pequeno Príncipe, fala do amor como o
entendo: o amor não pode ser confundido com o delírio da posse, que acarreta os
piores sofrimentos. Contrariando a opinião comum, o amor não faz sofrer. O
instinto de propriedade, é contrário ao amor. Este faz sofrer. O amor
verdadeiro começa lá onde não se espera nada em troca.
A
mulher assassinada pelo ex-companheiro ocorrida em dezembro deste ano, aqui nos
Campos Gerais, relembra uma tragédia acontecida há mais de 100 anos, daquela
que hoje é conhecida como a Santinha dos Campos Gerais, Corina Portugal. Era
1885 quando o marido a assassinou com trinta e duas facadas. Ela se tornou insígnia
da violência contra a mulher nesta cidade. Seus gritos de dor reverberam hoje nesta tarde cinza e os Campos Princesinos
choram novamente a morte de uma mulher ocorrida em situação cruel.
Corina
Portugal lia um livro de Machado de Assis, assim disseram. Refletia ela sobre a
obsessão de Bentinho por Capitu?! Aquela ia com o filho à escola no momento que
foi pinçada inclementemente da vida, quimera perdida!
Quantas outras mulheres morreram, morrem e
morrerão pelas mãos de seus companheiros ou ex-companheiros? O número de
mulheres vítimas de feminicídio aumenta a cada ano no Brasil. Conforme dados de
2018, do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 29,6% dos homicídios dolosos
de mulheres no Brasil são feminicídios e 41,8% acontecem no Paraná.
Antes
que a amargura e a tristeza venham visitar-nos inesperadamente, trazidas pela
morte de uma filha, irmã, mãe, mulher, gritemos em uníssono por um mundo sem
violência contra a mulher. Quando ocorre um feminicídio todas nós mulheres nos
sentimos feridas. Vivenciamos um vazio irrespirável.
Antes
do último beijo, antes que a cortina se feche e a peça termine, que a vida seja
tratada como uma dádiva divina. Deus nos concede uma página de vida nova no
livro do tempo, a cada dia, e que nenhuma página seja arrancada de nós
abruptamente.
Simplesmente fantástico e verdadeiro. Foi uma tragédia, vivenciamos ou ouvimos tragédias como essas diariamente, infelizmente. Precisamos de mais amor, amizade, companheirismo, gentileza, união e acima de tudo, respeito pela vida do próximo. Ninguém é objeto, ninguém é propriedade. Parabéns...
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