Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa.
Publicada no Correio Carambeiense em 18/09/21, postada no Portal aRede em 15/10/21.
Os frios de julho mais intensos, na região de Ponta
Grossa, trazem-me à lembrança o cocho do galinheiro, que amanhecia com uma fina
camada de gelo lacrando a superfície da água. Havia uma hierarquia entre as
crianças para quebrar o gelo, e me lembro de algumas vezes em que a princesa do
gelo era eu, antes de ser destronada pela criança mais nova que já estava apta
a assumir o poder do riso, ante a novidade.
Nessa época eu ainda não tinha perdido também meu
castelo, o que tem muito a ver com o mesmo cocho. O castelo, um abacateiro
enorme, com infinitas alas (cada galhada que se estendia lateralmente com
bifurcações suficientemente resistentes para sustentar o peso de uma
“princesa”), era o cenário para o encantamento da infância, com minhas irmãs e
vizinhas. Eu gostava de subir até os galhos ainda tenros que empinavam para o
alto, formando uma copada de coloração mais clara — a torre — de onde eu podia
avistar todo o reino (os arredores de Ponta Grossa) em várias direções: as
baixadas sombreadas, ainda com natureza intacta, e as colinas ainda não tomadas
por habitações humanas. E sentia o vento balançar os galhos que me sustentavam,
e embaraçar meus cabelos finos, que nem conheciam condicionador, naquela época.
Era esperado que um desses galhos finos, algum dia, vergasse ao meu peso. Mas
isso nunca aconteceu. Creio que enquanto a princesa crescia, também a torre se
fortificava.
Entretanto, certo dia, despenquei direto em cima do cocho
do galinheiro. Fiquei sem fala (ou seria uma parada respiratória?), que só
voltou com os brados da mãe ameaçando-me com o exílio, que me destituía do
título de Alteza, da coroa, da vista da torre, e da infância. O primeiro
patamar da subida, um toco de galho, que já era toco de tanto perder partes de
sua extremidade ressequida pelo tempo, não suportou o peso da princesa que não
queria amadurecer. Nunca esperei essa traição do bom e fiel toco de galho...
Nada mais de alturas. O exílio concedido a quem perde
seus direitos de infante fica no rés do chão, aonde as
fantasias flutuantes e balançantes não conseguem descer, restando apenas secas
passadas sobre o eito da vida real (nada a ver com realeza).
Hoje vejo o retalho de uma daquelas colinas, que se
estende até o reino do fim do dia, onde o céu adormece mostrando, por uma
fresta, o seu pijama de cores do ocaso, até que ela se vista com o brilho das
luzes artificiais. Na fantasia ainda ardente em mim, lembram-me tochas de um
exército acampado na fronteira do infinito, aguardando o toque de avançar para
a conquista do derradeiro sonho.
Meus sinceros agradecimentos pela acolhida de minha crônica. Sinto-me privilegiada por meu modesto texto ser publicado neste espaço tão nobre.
ResponderExcluirGrande abraço.
Show...adorei!
ResponderExcluirParabéns princesa! Lindo texto!
ResponderExcluirSaber das histórias de infância através das crônicas é muito melhor! Amei! ☺️
ResponderExcluirCamila Alves Gomes Borck 👆
ExcluirParabéns a todos envolvidos , desde o idealista do projeto a todos aqueles de coração aberto participam com o coração aberto!
ResponderExcluirA varredura do calçadão ,maravilha porque assim os transeuntes aprendem a jogar o lixo no lixo.
Quetia estar junto, mas minha coluna não permite.
Um beijo a todos.
Amei. Belíssima crônica...
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