Texto de autoria de Sílvia
Maria Derbli Schafranski, advogada e Mestre em Ciências Sociais pela UEPG,
residente em Ponta Grossa.
Dies
posterior prioris est discipulus
No
primeiro ano de faculdade, o ingresso no curso de Direito na Universidade
Estadual de Ponta Grossa era um mergulho no desconhecido, uma jornada que
misturava empolgação e ansiedade. Naquela sala de aula, repleta de alunos e
cadernos prontos para serem preenchidos, tudo parecia perfeitamente normal. Até
que ele entrou.
O
professor W.J.C., uma figura sui generis de cabelos grisalhos, olhos
grandes e óculos de aro grosso, adentrava a sala com um ar de mistério e uma
pasta de couro antiga. Os alunos logo perceberam que aquela aula seria
diferente.
Sem
rodeios, o professor começou a explicar os fundamentos do Direito Civil com uma
abordagem única. Ele adorava usar termos em latim conjugados com uma linguagem
erudita, como se estivesse encenando uma peça clássica em pleno século XX.
Enquanto
os estudantes tentavam acompanhar freneticamente suas anotações, o professor W.J.C.
lançava, em meio ao contexto das explanações, expressões como aliud, alea
jacta est, quieta non movere, ad hoc, ad honores, rebus sic stantibus,
deixando todos atônitos e com os olhos vidrados em busca de compreensão.
Os
cadernos rapidamente se encheram de rabiscos confusos e tentativas frustradas
de decifrar o que diabos aqueles termos significavam. Alguns alunos riam
perplexos, quando uma aluna se queixou:
—
Ele me chamou de virago, mas sou moça direita, será que pode isso?
O
professor W.J.C. continuava sua explanação, completamente alheio ao caos que
havia criado. Para ele, aqueles termos eram tão naturais quanto respirar, e
repetia que iria fazer com que desenvolvêssemos raciocínio jurídico, diferente
da lógica das Exatas. Aquele professor singular e suas expressões corriqueiras
haviam transformado uma simples aula em uma experiência inesquecível.
Ao término da aula, enquanto os alunos saíam da sala em meio a uma série de críticas e ainda tensos, ficava a certeza de que, naquele curso de Direito, nada seria tão fácil e previsível quanto se imaginava. E aquele professor, antes mesmo até odiado pelo rigor e pela linguagem erudita, os acompanhou pelos próximos cinco anos quando, ao final, se tornou o nome de turma: “Wilson Jerônymo Comel”.
Seu legado se perpetua até hoje em cada um de nós que foi instigado a explorar os
recônditos do conhecimento por conta própria, partindo das suas premissas, das
grandes obras, dos clássicos indicados e da linguagem até então indecifrável
que era lançada de forma cotidiana em sala de aula.