Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, residente em Ponta Grossa.
Eu já não era mais criança, mas
“sérios” compromissos de adolescente não me impediram de acompanhar meu pai,
num determinado 15 de abril, ao pinheiral do primo Valdo, no distrito de
Guaragi, na localidade rural de Taboleiro. Nessa ocasião, que já ficou mais de
meio século no passado, adentramos uma bela floresta de araucárias produtivas,
prontas a obedecerem à lei do 15 de abril, que despejavam de suas fecundas
pinhas maduras os polpudos pinhões.
Segundo Avelino Antoniácomi, meu pai, as araucárias do pinheiral do
Valdo jamais negaram sua fidelidade a essa lei, de forma que também ele (ainda
um solteiro agricultor, ou já um ferroviário, casado, pai de sete crianças, em
férias, ou mais tarde, desfrutando da aposentadoria na chácara do Taboleiro),
sempre que possível, lá estava, no pinheiral do Valdo, recolhendo num cesto as
sementes que as gralhas não enterraram, que os bugios não comeram no alto do
pinheiro, que a ventania acabara de debulhar das pinhas. Antes do 15 de abril, era
possível encontrar pinhões, apenas em um certo local, onde vicejavam algumas
araucárias conhecidas por Pinheiro de São José, assim nomeadas porque suas
sementes costumavam debulhar aos poucos desde o dia 19 de março, Festa de São
José, mas eram sementes mais miúdas e não tão macias como as que obedeciam à
lei do 15 de abril. O confiante Avelino garantia que antes do 15 de abril os
polpudos pinhões de uma certa espécie que abundava naquela floresta não
estariam no chão, mas nesse dia, era preciso disputar seara com os porcos,
“obviamente” também conhecedores da obediência das araucárias do Valdo.
Recordo-me com clareza do 15 de abril
em que tive uma prova da proteção divina. Nosso pai era um grande valente
medroso, que nos preservava de sustos com os porcos comedores de pinhões, ou
com os bugios no alto dos pinheiros, mas eu já não era criança, naquele dia, em
que as filhas “mais velhas” que quiseram acompanhá-lo, tiveram permissão.
A um “craque”, diferente dos “craques” produzidos
por nossos tênis quebrando gravetos no chão, instintivamente, dei um pulo para
trás, e exatamente no ponto de onde pulei para trás, despencou um robusto e
mal-intencionado galho de araucária; o anjo da guarda, a quem eu até já perdera
o hábito de pedir proteção, agiu prontamente, impedindo um desastre, que nada
tinha a ver com os temidos fuçadores. Com a fé restabelecida, sem medo, segui
adiante na coleta dos pinhões. Apenas apurei meus sentidos, e concentrei-me nos
avisos da Natureza.
Certamente um isqueiro no bolso do seu Avelino permitia uns sapecados deliciosos. Parabéns.
ResponderExcluirCorte favorito para os assados do Avelino: filé 7. Alcatra ou picanha só em dias festivos...
ExcluirMas os pinhões, na época certa, todos os dias sobre a chapa do fogão a lenha. As sapecadas no mato mesmo não eram frequentes, pois o "valente medroso" temia que o fogo se alastrasse. Em campo aberto presenciei algumas.
ExcluirEste ano comprei os primeiros pinhões por volta de 15 de abril. Não tinha conhecimento
ResponderExcluirde que a data é importante para que as sementes possam estar bem maduras. Acho que a lenda procede, estavam no ponto de consumo. A fruta-símbolo do Paraná rendeu boas aventuras na sua infância. Grata por dividi-la conosco!
Os mais velhos da região do Taboleiro confirmam. Mas a verdade é que antes do 15 de abril, os pinhões que aparecem para venda têm uma aparência de imaturos, e uma pele que não solta da polpa, quando cozidos.
ExcluirÉ clichê dizer que um texto "nos transporta ao passado", mas o sentimento foi esse. Valeu.
ResponderExcluirVerdade, Murilo. É o que fazem as lembranças.
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