Texto de autoria de Sílvia Maria Derbli Schafranski, advogada e Mestre em Ciências Sociais pela UEPG, residente em Ponta Grossa.
Era minha época
favorita: época de Páscoa. A casa estava envolta em uma energia de renovação e
esperança. Enquanto retirava as caixas de decorações dos armários, o Cristo, os
coelhinhos de pelúcia ressurgiam e em meio a diversos utensílios de Páscoa, as minhas
mãos encontraram um tesouro esquecido com que eu havia sido outrora presenteada
por minha falecida avó: um ovo pintado à mão.
Nascida em
Prudentópolis, em meio às colinas ondulantes do interior do Paraná, na pequena
cidade imersa na riqueza cultural dos imigrantes ucranianos, Dona Joana
carregava consigo as memórias e os costumes de sua terra natal. Contudo, foi em
Ponta Grossa onde fixou raízes e constituiu família.
Anualmente, por
ocasião da Páscoa, Dona Joana fazia uma jornada de volta às suas origens em
Prudentópolis. Não apenas para visitar sua terra natal, mas também para
realizar um ritual especial: "benzer Páscoa", como diziam os mais
velhos, seguindo os ritos ucranianos.
A viagem de
Dona Joana para Prudentópolis era mais do que uma simples jornada; era uma
peregrinação de resgate de suas raízes e identidade. Ao chegar, era recebida
com sorrisos calorosos e abraços afetuosos pelas irmãs, pelo sobrinho Asternon,
pelo amigo Quinho e pela comunidade. Os dias que antecediam a Páscoa eram
preenchidos com preparativos meticulosos.
A antiga igreja
ucraniana era o cenário das cerimônias. Dona Joana, vestida com seu traje
típico, entoava cânticos ancestrais e benzia os alimentos. Sob seus cuidados,
os ovos eram decorados com símbolos que contavam histórias milenares, enquanto
o pão ritualístico, o paska, era assado com devoção.
Durante a ceia
pascal, a mesa transbordava com uma profusão de iguarias: o kielbasa defumado,
o delicioso holubtsi (repolho recheado) e a sopa borsch, cujo aroma permeava o
ambiente. E, claro, não poderiam faltar os ovos pintados, cada um contando uma
história única de esperança e renascimento.
E no universo
daquela pessanka pascoal, quantas lembranças... As cores vibrantes traduzindo
renovação. Cada linha, cada curva externada deixa transparecer as nuances de
uma história de conflitos internos e externos, de desejos reprimidos e
esperanças renascidas.
A pessanka em minhas mãos, marcada pela dualidade, pela tensão entre o claro e o escuro, o bem e o mal, o passado e o presente.
E, em cada ovo pintado à mão, há uma busca incessante pela redenção, uma tentativa de superar os obstáculos que impedem o florescer da alma.
Belíssima crônica nos trazendo uma recordação cheia de amor!!!!!
ResponderExcluirParabéns
ResponderExcluirLinda crônica, regada de recordações que com certeza deixou em você emoções muito fortes.
Muito obrigada
ExcluirNesta crônica você descreve o belo cerimonial usado pelos ucranianos na época pascal. Feito com muito carinho (as pessankas comprovam) devoção e fé. Me emociona a bênção dos alimentos. Parabenizo-a pela excelente redação, pelos contornos que deu à sua narrativa e pelo tema escolhido, Silvia.
ResponderExcluirMuito obrigada Sueli!
ResponderExcluirTexto adorável! Sempre tive interesse em conhecer mais as tradições ucranianas, muito presentes, mesmo nos dias de hoje, nesta região do Paraná, especialmente nas danças típicas. Mas as pessankas parecem conter um mistério naqueles traços, e isso fascina.
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