Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa.
Reinavam
paz e harmonia no Império. Ninguém precisava angariar privilégios para viver
satisfeito: as energias desgastadas em folguedos noturnos, em plena liberdade,
os habitantes recuperavam com a ceia farta e, durante o dia, com o descanso sob
abrigos de teto baixo (refúgios altos eram desnecessários, pois nenhum intruso
mal-intencionado ou invasor perigoso colocava suas vidas em risco). Namoravam
graciosamente no escurinho do cinema, com bom serviço de fast food. Os infantes brincavam de esconde-esconde, entre as
fileiras de grandes estruturas desgastadas pelo tempo e uso.
Mas
os tempos mudam. Os subterrâneos, local da nascente do Arroio Pilão de Pedra,
via de acesso secreta para as dependências do Império (um paraíso de diversões
aquáticas dos imperiais), haviam sido invadidos. Aquelas criaturas descomunais
de uma espécie assustadora, bem conhecida dos ancestrais, que antes pouco
apareciam, iniciaram uma ocupação massiva dos subterrâneos, a princípio, sem
aparente pretensão à conquista territorial, usufruindo pacificamente das
ofertas generosas de alimento e lazer encontrados também ali.
Os
anciãos preocupavam-se e confabulavam, mas os jovens — acostumados com os
assíduos frequentadores do lugar, fornecedores de alimentos, tremendamente
maiores e inofensivos —, encaravam com naturalidade os diferentes em seu meio.
Viam nos filmes criaturas ainda mais assustadoras. Por que temeriam aqueles
que, como seus ancestrais, vieram de outros lugares, buscando garantia de
sobrevivência na fartura do Império, que os imperiais poderiam perfeitamente
compartilhar, mostrando sua hospitalidade?
Num desfecho desastroso, as comilonas criaturas que se reproduziam assustadoramente, infestaram o Império, e o alimento que naturalmente abastecia as praças de alimentação passou a ficar escasso, gerando grande insatisfação naquelas criaturas desprovidas do bom senso que os imperiais herdaram dos ancestrais pré-históricos: "Na paz e na harmonia, em bons refúgios e sem luxúria, transmitiremos aos nossos descendentes o domínio do Universo". Tais gulosos tornaram-se predadores furiosos, investindo contra a pacífica comunidade que os acolheu, como em históricas invasões e conquistas territoriais. O próprio Cine Império não durou muito depois desses funestos acontecimentos. Nunca ficou provado o que o dito popular jocoso, largamente difundido entre os frequentadores humanos daquele cinema, proclamava: “Não há mais baratas no cine império; os ratos comeram todas”.
Rosicler, minha querida, você não merece só palmas, merece o Tocantins inteiro por esta crônica inteligente, instigante e muito bem narrada. Arrepiou um pouco ler sobre esses habitantes das profundezas que causam nojo, mas valeu muito a pena. Um beijo!!
ResponderExcluirPrecisamente assustadora!!!
ResponderExcluirNaturalmente, eu havia escrito um texto com uns 3.000 caracteres, pois precisava de umas pitadas de suspense para que o conhecido dito popular ganhasse destaque, no final. Amputações foram necessárias... Agradeço pela leitura e comentários tão simpáticos, Sueli e Mário.
ResponderExcluirMuito bem narrado!!! Parabéns!!!
ResponderExcluirExcelente texto! Parabéns!
ResponderExcluir"Num desfecho desastroso, as comilonas criaturas que se reproduziam assustadoramente, infestaram o Império" maravilha.
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