Texto de autoria de Mário Francisco Oberst Pavelec, técnico em agropecuária, natural de Palmeira, residente em Ponta Grossa.
Início
da década de 1930. Mundo em crise econômica. Um automóvel chega em Ponta Grossa
com dois homens. Fato raro que chama a atenção. Rudholf, ou Rudo, como ficou
conhecido, um alemão, grandalhão, meio rude, vestia uma calça de linho marrom,
suspensórios e um camisetão sem golas, branco, meio empoeirado. Bernard,
francês, parecia culto, refinado, dominava o português e o alemão, trajava um
conjunto em linho azul-claro, os tradicionais suspensórios, camisa branca e um
Panamá que parecia novo.
Buscaram
uma casa grande, não central. Rudo montou em um galpão, fundos, uma marcenaria.
Móveis em madeira, aproveitando-se das imbuias e pinheiros, ainda fartos na região.
Bernard monta seu estabelecimento. Primorosamente cortava os cabelos de
senhoras e alguns poucos senhores.
Logo
suas habilidades foram reconhecidas. À boca miúda, sua fama se espalha. Algumas
madames, “baroas” e coronelas rendem-se aos seus talentos. Rudo não tem o mesmo
sucesso. Poucos móveis, alguns consertos, mas muito tempo livre. O bar lhe é um
recanto.
Bernard
trabalha até tarde, cuida da casa. A cerveja destrava a língua de Rudo. Ambos
sobreviveram à grande guerra. Alemães contra franceses. Agora meu amigo é
francês. A Alemanha se reerguerá. Um novo Reich. Rudo resmunga muito em alemão,
poucos entendem.
Será
que é? Certeza, amiga! Mas e o alemão? Também. As senhoras e também alguns senhores
comentam pela cidade. Escândalo. Mas os dotes de Bernard lhes mantêm o
sustento.
Um
jovem, família abastada, vai cortar cabelo com Bernard. A conversa engata. A
frequência aumenta. Fica diária. Conversas longas e filosóficas. Rudo não tem
paciência para isso. Não gosta de ler, só conversa movido à cerveja. Bar.
Chega
tarde. O jovem ainda está em sua casa. Na casa de Bernard. Não fala nada. Vai
dormir.
Na
manhã seguinte, Bernard não abre o estabelecimento. A marcenaria também não
barulha. Na outra manhã permanece fechada. As clientes ficam preocupadas. O
jovem também.
Seu
delegado, tem que ir lá, acho que aconteceu algo. Os policiais vão direto aos
fundos. O corpo de Rudo pende em uma viga do galpão. Uma cadeira tombada. Coisa
de alemão. Na casa, Bernard estava encolhido na cozinha. Um formão
ensanguentado ao lado. Parece um assassinato. Passional, acrescentou o delegado
com um breve sorriso de canto de boca.
O
jovem foi morar na Capital. Estudar. Vez por outra é visto na cidade, trajando
um conjunto de linho azul-claro, camisa branca, suspensórios e um Panamá
parecendo novo.
Emocionou. Pena que o que costumeiramente chamamos de história de amor, é, na verdade, uma história de ciúme, de opressão. Narrou muito bem, apegando-se aos fatos, sem contaminação de preconceito. Parabéns!
ResponderExcluirGrato, Rosicler. Imagino que, naquela época, essa opressão deveria ser ainda maior.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
Excluir😂😂😂. Bela narrativa.
ResponderExcluirGrato. Um amor praticamente impossível.
ExcluirParabéns Mário, mais uma crônica que nós remete ao passado/presente/futuro!👏
ResponderExcluirGrato. Espero que crimes como este não existam futuramente.
ResponderExcluirMuito Bem Sr. Mário.
ResponderExcluirMuito grato!!!
ExcluirArrasou primo 👏 Gosto de viajar nas suas crônicas.
ResponderExcluirGrato, Rita!!!
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