Texto de autoria de Alfredo Mourão, aposentado, graduado e especialista em Letras - UEPG, criador de textos e contador de histórias, residente em Ponta Grossa.
Às vezes desperto entre as matinas
monásticas. Musicadas horas do audível futricar de folhas, burburinhar de
brisas, gorjear de passarinhos – delicadas práticas cotidianas da ancestral mãe
natureza faça sol faça chuva.
Logo as poéticas dos primeiros
cantares/falares são progressiva e ostensivamente encobertas por ruidosas
poéticas dos artefatos tecnológicos. Despertam agitados ponta-grossenses
sonolentos, alterando a tranquilidade da aurora brejeira, modificando a lírica
sonoridade dos originais.
De novos personagens se faz dia a dia
a cidade expandida desde que os pioneiros assentaram-se nas fartas campinas dos
Campos Gerais, introduzindo hábitos, rasgando caminhos, carregando ideias. Apresentando expectativas, trazendo nos
muares novos olhares novos despertares.
Cada um desperta à sua maneira. Cada
uma se expressa ao seu modo e conveniência. Idiossincrasias. Modernidades.
Pluralidades. Transversalidades de um século que se redescobre e se redefine a
cada despertar de manhãs ensolaradas ou nubladas. Lá se vão mais de dois
séculos nas plagas princesinas.
Entre idos primaveris e vindos
veraneios me pego às memórias despertadoras daquilo que, saudosa e
carinhosamente, costumamos dizer “bons tempos aqueles!” Alguém se recorda do
cincerro despertador de Nhô Fidêncio, tirando todos da cama fizesse sol fizesse
geada, prometendo o animado Luiz Frederico Daitschman retornar na manhã
seguinte com hilário bordão “se Deus quiser, se não faltar fôlego, a polícia
consentir e nós não perder a hora!” Por certo alguém próximo já contou as
proezas da casamenteira Comadre Daysi no concorrido “Gentilezas caipiras”,
marcando encontros, lendo cartas de amor, ensinando simpatias e utilidades
públicas - “bom dia comadre, bom dia compadre!” Fizesse sol fizesse chuva lá estavam
Luiz Frederico Daitchsman e Daysi Durski despertando a Princesa dos Campos e
região, nas ondas da Rádio Clube Ponta-grossense PR-J2.
Nos conturbados dias contemporâneos
os despertares têm sonoridade eletrônica, inteligências artificiais. Despertamos
alheios aos trinados da passarada urbana em limitados quintais. Ao canto
madrugador de um sobrevivente galináceo na vizinhança verticalizada. Sonoras provocativas
do celular impõem-se com fortes apelos. Porquanto reels, lives, podcasts, stories,
streamings, uma profusão de aplicativos seduzem-nos com discutíveis poéticas. É
a democracia dos novos despertares do agitado 2023.
Os vetores modernos do despertar podem até escolher outras horas do dia, que não os da mãe Natureza para fazerem soar seus guisos. O teor poético do texto provoca ainda despertares emotivos.
ResponderExcluirDespertar memórias e emotividade: está aí a pegada da crônica!
ExcluirHaa !!que delicia ler essa crônica Alfredo,viajei no tempo,das manhãs entre o café e a rotina,ouvindo o rádio com as comadres Maria e Dayse,e tudo oque vc descreveu da nossa amada Ponta Grossa.
ResponderExcluirParabéns primo🥰
Saudoso tempo, muitos nem sabem que o galo canta ao amanhecer e o futuro? Dá até medo de pensar o que está por vir, Nós contemporâneos quando começamos a aprender a nova linguagem digital já notamos que ficou ultrapassada….
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