Texto de autoria de Elcio Antonio Pizani, Funcionário Público Estadual, residente em Palmeira.
Meu pai solicitou transferência de Curitiba para Palmeira no ano
de 1978. Segundo ele, era para que tivéssemos uma infância livre. Era
funcionário do Instituto Brasileiro do Café, IBC, e tinha direito a residir em
uma das casas que ficavam no pátio da empresa.
Para nós, crianças, era um verdadeiro paraíso. O espaço tinha
proporções enormes para o olhar infantil, havia um trecho de linha férrea
desativado, local propício para inventarmos aventuras. Além do barracão
praticamente desativado, onde se transformava em uma pista de corrida de
carrinhos que antes eram utilizados para transportar sacas de café.
Uma das coisas que mais me trazem recordações era uma balança
improvisada que ficava em um galho de cinamomo, para mim era
"sinamão". Nos primeiros balanços, foi improvisado um emaranhado de
panos para suavizar o atrito direto com a corda. Posteriormente meu brinquedo
ganhou um assento decente, que me embalou por um bom tempo.
Passei literalmente décadas sem apreciar o vai e vem gostoso de
uma balança. Sempre vinha em minha mente a sensação prazerosa daquelas tardes
em que ficava brincando, refletindo e sonhando embaixo daquela árvore que cedeu
um pedaço para me abrigar nas suas sombras e frescor.
Agora, quando visitei o sítio de uma amiga, tive a oportunidade de
me balançar novamente. Sentei com emoção e vieram, na minha mente, flashes da memória afetiva. O estranho é
que senti algo diferente, não como antes. Digamos, sem muita emoção. Uma
sensação prazerosa de se balançar, porém, um sentimento normal. A minha
expectativa titânica deu lugar à realidade, minhas percepções diferem de
outrora.
Hoje sigo os trâmites da vida, onde tudo tem seu espaço e tempo.
Cada fase tem seus méritos, deveres, prazeres e dissabores. O que aprendi nessa
dinâmica é que nada tem a mesma sensação; por isso, o importante é apreciar os
momentos, transformando-os em bons, para ficarem gravados na nossa memória e,
quando necessário, ativar as lembranças e nos deliciarmos com as recordações
deleitosas.
Ainda hoje sinto a brisa no meu rosto, a sensação em tirar os pés
do chão e idealizar que o embalo das cordas nos aproxima do céu. O corpo fica
limitado, a imaginação, ainda bem, vai além dos limites racionais e nos permite
fantasiar a perfeição em que gostaríamos de estar.
Aquela balança improvisada ficou registrada em minha memória como
um dos meus pontos de encontro do passado. Memórias positivas que, em alguns
momentos, devemos recordá-las para entender a dinamicidade da vida.
Lembrei de uma frase de Jorge Amado: "de saudade não se morre, se vive". É isso. Parabéns
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