segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Balança de corda

Texto de autoria de Elcio Antonio Pizani, Funcionário Público Estadual, residente em Palmeira. 

Postado no Portal aRede em 11/01/2023, no Portal CulturAção em 18/04/2023, e publicado no Diário dos Campos em 15/02/2023.

Meu pai solicitou transferência de Curitiba para Palmeira no ano de 1978. Segundo ele, era para que tivéssemos uma infância livre. Era funcionário do Instituto Brasileiro do Café, IBC, e tinha direito a residir em uma das casas que ficavam no pátio da empresa.

Para nós, crianças, era um verdadeiro paraíso. O espaço tinha proporções enormes para o olhar infantil, havia um trecho de linha férrea desativado, local propício para inventarmos aventuras. Além do barracão praticamente desativado, onde se transformava em uma pista de corrida de carrinhos que antes eram utilizados para transportar sacas de café.

Uma das coisas que mais me trazem recordações era uma balança improvisada que ficava em um galho de cinamomo, para mim era "sinamão". Nos primeiros balanços, foi improvisado um emaranhado de panos para suavizar o atrito direto com a corda. Posteriormente meu brinquedo ganhou um assento decente, que me embalou por um bom tempo.

Passei literalmente décadas sem apreciar o vai e vem gostoso de uma balança. Sempre vinha em minha mente a sensação prazerosa daquelas tardes em que ficava brincando, refletindo e sonhando embaixo daquela árvore que cedeu um pedaço para me abrigar nas suas sombras e frescor.

Agora, quando visitei o sítio de uma amiga, tive a oportunidade de me balançar novamente. Sentei com emoção e vieram, na minha mente, flashes da memória afetiva. O estranho é que senti algo diferente, não como antes. Digamos, sem muita emoção. Uma sensação prazerosa de se balançar, porém, um sentimento normal. A minha expectativa titânica deu lugar à realidade, minhas percepções diferem de outrora.

Hoje sigo os trâmites da vida, onde tudo tem seu espaço e tempo. Cada fase tem seus méritos, deveres, prazeres e dissabores. O que aprendi nessa dinâmica é que nada tem a mesma sensação; por isso, o importante é apreciar os momentos, transformando-os em bons, para ficarem gravados na nossa memória e, quando necessário, ativar as lembranças e nos deliciarmos com as recordações deleitosas.

Ainda hoje sinto a brisa no meu rosto, a sensação em tirar os pés do chão e idealizar que o embalo das cordas nos aproxima do céu. O corpo fica limitado, a imaginação, ainda bem, vai além dos limites racionais e nos permite fantasiar a perfeição em que gostaríamos de estar.

Aquela balança improvisada ficou registrada em minha memória como um dos meus pontos de encontro do passado. Memórias positivas que, em alguns momentos, devemos recordá-las para entender a dinamicidade da vida.

 

Um comentário:

  1. Lembrei de uma frase de Jorge Amado: "de saudade não se morre, se vive". É isso. Parabéns

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