Texto de autoria de Carlos Mendes Fontes Neto, engenheiro civil, Ponta Grossa.
Postado no Portal aRede em 25/10/2022, publicado no Diário dos Campos em 02/11/2022, e lido na Rádio MZ FM em 05/11/2022.
Ontem
os últimos ipês que ficam numa nesga de canteiro sobrevivente da Biblioteca
Municipal começaram a florescer. Antes, alguns anos atrás, quando as
instalações da Biblioteca e do Centro de Música ficaram prontas, haviam
plantado pés de ipê em toda a frente para a rua Frederico Wagner, distribuídas
na área destinada ao estacionamento de veículos. Mas só tiveram a chance de uma
florada. Rapidamente foram sumindo para permitir que o espaço fosse utilizado
como local de eventos. Muitas tendas, muitos feirões de veículos usados, até
encontro de carros modificados com tremenda barulheira ali passaram a acontecer.
Mesmo que, nos prédios ao lado, as atividades fossem voltadas à concentração e
ao estudo. Sem falar da escola do outro lado da rua.
Dizem
que os ipês foram mudados para o lado oposto da enorme chaminé. Chaminé que
sobreviveu ao apagamento do importante ciclo industrial que ali ocorreu. Mas,
se foram transplantados, também acabaram tendo um triste destino, derrubados
pelos sucessivos circos que ali se instalaram. Tiveram o mesmo fim que a
centenária paineira que existia ao lado da escola, do outro lado da rua.
Agora,
despontando a primavera, os ipês remanescentes parecem explodir em amarelo. Flores
admiradas, ao mesmo tempo que vão pausadamente caindo, transformando a grama
meio praguejada em tapete dourado. Uma falsa impressão de “noblesse oblige” de algo que ficou a desejar. Chamam a atenção,
pois há muito os ipês da cidade já floresceram. Amarelos, roxos e até o branco, mais perene
que os outros, cujas flores só resistem três dias, já deixaram os galhos
pelados e se encheram de folhas. Tardiamente, sem saber que a temporada é cada
vez mais precoce e já passou. Talvez por não terem noção da “passagem da boiada”...
Esses
ipês ainda se quedam a contemplar o Memorial dos Tropeiros, sentinela da
história e do patrimônio cultural, testemunhando a indiferença com que as
pessoas por ali passam...
Atrás,
sobre o grande e agora totalmente cimentado pátio, alijado de qualquer
possibilidade de uma mínima sombrinha benfazeja, resta apenas a aridez da
função ordinária a que foi proposto: estacionar veículos. Apesar de que, às
vezes, se preste a ser procurado por grupos para se encontrar, pela falta de
opção de local, para jogar conversa fora. Coisas de Ponta Grossa.
Felizmente restaram alguns. Parece que "alguns" é o termo que vai se tornando corriqueiro quando se trata de preservação. Parabéns pelo texto.
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