Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa.
Postada no Portal aRede em 06/04/2022 e no Portal CulturAção em 08/04/2022.
O primogênito de meus avós paternos Luísa e Pedro já tinha seu nome escolhido desde que ela viu seu ventre crescendo pouco a pouco e percebeu que gerava um filho. Não havia aparelhos de ultrassom que detectassem o sexo dos bebês, em 1920. Contudo, ela sentia que seria um menino. As senhoras mais experientes pressagiavam que, pela forma que a barriga tomava, seria possível determinar o sexo do bebê. Faziam conjeturas usando fio e agulha virgens, balançando como um pêndulo sobre a palma da mão da gestante. Tudo levava a crer que seria um menino. Nasceria no Brasil, terra que a família escolheu quando emigrou da Rússia. Na Rua Bahia, Bairro Órfãs, uma espaçosa casa de madeira era sua morada. A janela do sótão alto, um mirante.
As previsões se fizeram realidade e um brasileirinho alemão-russo, forte e saudável, nasceu. Dali avistava os verdes Campos Gerais refletindo no verde dos seus olhos. A família de católicos fervorosos já pensou no batizado do pequeno para estar alinhada com as leis da igreja. Na pia batismal da Igreja São José recebeu o primeiro sacramento de um cristão. Era costume da época delegar ao padrinho a incumbência de fazer o registro civil do afilhado. Vó Luísa salientou o desejo de dar ao seu recém-nascido o nome de Jorge. Voltando do cartório, o padrinho tinha em mãos a certidão de nascimento daquele que viria a ser o meu pai. Para surpresa dela, o menino foi registrado com o nome de Adão, o mesmo nome do padrinho. Meus avós engoliram o amargor da constatação com um copo de água açucarada, mas não o desaforo do compadre pela imperdoável atitude. Sempre chamaram-no de Adam dentro da família. Fora dela o nome da certidão foi sendo escrito nos boletins escolares da Escola Verde (hoje Colégio Santana), no serviço militar, nas atividades sociais e esportivas do Clube Palmeira, onde jogou futebol e compôs a diretoria por algum tempo, no registro de casamento, de nascimento dos filhos e na placa do seu comércio “Sapataria Adão”.
No triângulo formado pela confluência das ruas Rio de Janeiro e Henrique Degraf, atrás do Asilo São Vicente de Paulo, o endereço era conhecido por inúmeras pessoas que utilizavam seu trabalho na reforma de calçados. Não era Jorge, mas foi um cidadão ponta-grossense que honrou o nome que lhe foi dado à revelia. E o soldado Adão Buss honrou também a pátria como combatente na Segunda Guerra Mundial.
Parabéns pelo texto. Histórias de Ponta Grossa.
ResponderExcluirObrigada pela gentileza do comentário Mário.
ExcluirDar aos afilhados o mesmo nome do padrinho ou madrinha era prática comum. Mas o primogênito homem era também comum receber o mesmo nome do pai. Jorge não escapou do nome do padrinho. Escapou do nome do pai? Excelente crônica de costumes, mesmo o padrinho não tendo respeitado os costumes.
ResponderExcluirMesmo sendo costume dar o mesmo nome do padrinho, faltou respeito pois a mãe pediu que o nome do filho fosse Jorge. Se o menino tivesse o nome do pai seria Pedro. Costumes antigos e estranhos. Naquela época seria melhor ter escolhido um padrinho chamado Jorge. Grata, Rosicler.
ResponderExcluirParabéns, Sueli. Eu desconhecia esse fato pitoresco que ocorreu com o seu pai, meu tio Adão. Vou perguntar à minha mãe se ela lembra. Muito interessante!
ResponderExcluirObrigada pela mensagem. Você deve ser um primo ou prima. Ficaria feliz em saber seu nome. Um abraço
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