Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica, escritor e jornalista aposentado, residente em Curitiba.
Publicada no Diário dos Campos em 06/10/2021, postada no Portal aRede em 03/11/2021 e no Blog da Mareli Martins em 21/01/2022, lida na Rádio Clube em 21/01/22.
Futebol. Sete anos. Decisão entre
Operário e Coritiba. Estádio abarrotado. Cigarro aceso no braço e choro de dor.
O pai sócio, após um jogo, quis acertar soco no juiz ladrão na hora de embarcar
no ônibus.
Mais tarde, pai ex-sócio, assistir
agora só passando com um adulto ou esperar a liberação no intervalo. Bonito em
campo a mistura do preto e branco do “graxeiro” e o preto e vermelho do “pó de
arroz”. Clássico Ope-Guá no Paula Xavier. Bandeiras rubro-negras tremulando na torcida
da casa. Paixão instantânea. Depois o coração ficou tripartite, dois terços em
preto e vermelho.
Copa de 70. No auditório da Jota-2,
Tv colorida para ver o Brasil. A cada gol canarinho, uma explosão de gritos. Os
4X1 na Itália foi na casa de um colega da 4ª série do Regente. Quando acabou, o
pai dele nos aboletou na Kombi e fomos para a rua. Descemos a Balduíno Taques
viramos na Avenida. Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, no meu
coração...
Dezesseis anos. Cortei torinhas de
lenha, ajudava um sujeito a fazer carretos num velho Chevrolet e vendi laranja
na rua. Saía de São José com uma gaiota (caixote de madeira sobre duas rodas
revestidas com tiras de borracha). Fiz freguesia na Vila Liane e Vila Estrela.
Gritos na rua, palmas nas casas conhecidas. Com o dinheiro paguei inscrição e
comprei passagens para ir a Curitiba prestar concurso para a Aeronáutica. Fui
estudar fora.
Férias de duas semanas em julho, dois
meses e meio na virada do ano. Toda tardinha ia ao centro. Às vezes, filme no
Império. No domingo, programação melhor no Ópera ou no Inajá. Ao lado do
Império marcava ponto para tomar uma Cuba Libre.
Para subir na vida, férias e curso de
datilografia duas vezes por semana. O tec-tec das máquinas de escrever e no
rádio o desfile das mais pedidas. No topo “Eu disse adeus”, do Roberto e
“For once in my life”. Quase meia-noite, último ônibus para a Palmeirinha. No
ponto final, ruas escuras, subir uma ladeira de pedras traiçoeiras e atravessar
campo no Nossa Senhora das Graças.
Ponta Grossa triplicou a população.
Tem shopping, beleza na Catedral, arranha-céus, o Fantasma faz
propaganda e orgulha a cidade. Os mistérios de Vila Velha são revelados de modo
diferente; a Furna só de cima. Tomara que a Lagoa ainda seja dourada ao
entardecer.
Princesa dos campos ou rainha? Filho
da segunda, amante da primeira, sonho com grande festa de 200 velinhas. E canto
com Timóteo: Se algum dia à minha terra eu voltar, quero encontrar as
mesmas coisas que deixei...
"São tantas emoções"
ResponderExcluir"Sonho Meu": "Põe meia dúzia de Bhrama pra gelar, que eu tô voltando"
Alvinegro esperando...
Wilson, é muito bonita essa sua declaração de afeto pela Princesa dos Campos. Foram momentos emocionantes vivenciados e, pelo que você relatou, conhece mesmo, como ninguém, muito da intimidade dela... Se prepara então para a festa das 200 velinhas 😀.
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