Texto de autoria de Alfredo Mourão de Andrade, aposentado do Serviço Público Municipal de Ponta Grossa.
Publicada na Folha Paranaense em 29/06/2021, no Diário dos Campos em 30/06/2021 e no Correio Carambeiense em 03/07/2021, postada no Portal D'Ponta News em 10/07/2021, no Portal aRede em 21/07/2021 e no Portal CulturAção, em 26/07/2022.
Atravessando a Praça Floriano Peixoto em Ponta Grossa,
por volta do meio dia, de repente ouço conhecida cantoria (ou acho que ouço!)
vinda da imponente Catedral de Sant'Ana. Arrepios me percorrem. Vozes de um tempo distante: memória afetiva recheada
de fé, odores e sabores. Busco abrigo em um banco da praça, pois as pernas
tremem. A musicalidade preenche e abafa o burburinho dos carros, o falatório
dos transeuntes. A catedral de vitrais coloridos vai-se desvanecendo ao sol do
meio dia. Diante de mim surge a antiga catedral, teimosa em deixar resíduos da
sua exuberante arquitetura. As pesadas portas abrem-se e escancaram o louvor: “Ó Sant'Ana aceitai os louvores / desse povo
devoto e gentil.” E bem ali, a
alguns degraus do meu flashback, vejo
e ouço (ou imagino ver e ouvir!) os fervorosos cantores do Coro Vozes Madrigal,
regidos por Gabriel de Paula Machado. Rivalizando-se com a sonoridade divina do
órgão de tubos. Emocionado, me pego cantando baixinho pra não chamar a atenção
dos passantes.
Aos idos quinze, dezesseis anos me transporto.
Festivamente. Contava meses e dias para
a chegada de julho: festa da Padroeira. Novena. Quermesse. Feriado da santa. Aquele
frenesi de gente indo e vindo. Então me preencho de cheiros e sabores. Tudo bem
ali. Na mesma praça: barraquinhas de gostosuras, bandas musicais, foguetório. Então
me calo e me arrepio (de medo) diante dos atuais dias incertos, sem cheiros e
sabores ao alcance dos sentidos.
Feriado de Sant'Ana. Pela manhã, os católicos acorriam às
ruas centrais, por onde desfilava alegórica procissão: o belíssimo andor e a
imagem da mãe e sua filha. Um primor de encher olhos e coração. À frente vinham
as freiras, as noviças, em seus hábitos engomados, caminhando em fileiras.
Depois dezenas de padres com suas túnicas branquíssimas. À frente do andor a
banda musical, as crianças vestidas de anjos, o bispo Dom Geraldo Pellanda. Por
último, o povo de Deus acompanhando cantos e rezas em seus rádios de pilha. De repente
me vi cercado de fiéis.
Sentado naquele banco me revejo saudoso (e feliz!). Tanta
coisa mudou. As décadas (invasivas e nada sutis!) transformaram a cara da
cidade e das pessoas. Ali parado minh´alma reverbera o canto divino, ao odor do
incenso, ao som do órgão de tubos, ao canto dos animados coralistas: “Salve Sant'Ana Senhora! Sois padroeira
bondosa / desta cidade formosa / que vossas bênçãos implora!” Amém!
Oi Alfredo, tudo bem? Que bom que o senhor está por aqui também! Resgatar essas memórias de tempos passados é muito importante para a preservação da cultura da cidade. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirMe emocionei. Que linda memória de um tempo que não conheci ♥
ResponderExcluirBelíssimo texto!
Mês de junho, sem quermesse: o calendário também congelou por conta da Pandemia... E, especialmente hoje, por conta do frio e a garoa que vai atravessando o dia, Ponta Grossa parece mais vazia... Alfredo, parabéns!, suas lembranças acalentam a alma...
ResponderExcluirAlfredo, tal qual você, eu também aguardava a festa de Sant'Ana todos os anos, em julho. Lendo seu texto, me vejo com amigas, encolhidas de frio, alternando o abrigo na porta da Rádio Santana e as barraquinhas de gulodices. Parabéns pela escolha do tema. Abraços.
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