Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa.
Fim
de festa no clube campestre. As luzes começam a apagar-se. Somente a lua cheia
ilumina fracamente as mesas onde há pouco houvera uma comemoração. O silêncio
impera, os convidados se foram. Toalhas de linho branco usadas em eventos
especiais refletem a luz da lua, pratos com resquícios do que foi servido,
algumas taças de vinho tombadas sobre as toalhas, pingos do líquido roxo a
manchá-las de rosado. A piscina silenciosa adornando o cenário parece alheia ao
que acontece. Tocados pela brisa, objetos infláveis balançam suavemente na água
azul, da piscina do Verde.
Tiro
o paletó, deixo a gravata mais frouxa, e me sirvo de mais uma taça de vinho.
Vou degustando-o lentamente, sozinho com meus pensamentos. Sobre a mesa um saca-rolhas,
objeto de utilidade única. Tomo-o nas mãos e passo a analisá-lo, entre um gole
e outro, observando seus detalhes aos quais nunca havia dado importância. Uma
alça para apoiar a mão com firmeza e uma sucessão de curvas, como uma
serpentina, até a ponta aguda e cortante. As ranhuras do saca-rolhas se
engancham na cortiça da rolha e arrancam-na como um fórceps. Gritos de alegria,
taças ao alto e vivas a algum fato que se esteja comemorando.
O
vinho é uma bebida socialmente aceita por homens e mulheres. Ao redor da mesa
num almoço familiar o vinho acompanha a tradicional macarronada. Se alguém
chama para uma pizza é comum que um convidado chegue com uma garrafa do
indefectível líquido. Por sua cor intensa o vinho denota paixão, é um elemento
de sedução e de conquista. Fatalmente estará na taça de alguém que se embriague
de amor e se desiluda com ele. Baco, deus do vinho, foi o primeiro a sentir o
sabor da bebida feita com a uva cruelmente amassada e depois fermentada.
Continuo
manipulando o objeto e lembro da música de Roberto Carlos sobre as curvas da
estrada de Santos. Quase uma analogia a um saca-rolhas. Como voam meus
pensamentos! Passam pela Chácara Sozim, produtora de uvas, de suco e de vinho
coloniais, usando técnica artesanal herdada dos antepassados. Pelas parreiras
com enormes cachos trapezistas. Pela Fesuva, nossa tradicional festa anual da
uva que busca fomentar a produção familiar da fruta. Pelas delícias
comercializadas numa feira organizada pela cidade.
Minha
taça está vazia e a alma leve. O sol pede licença para assumir seu turno enviando
os primeiros raios dourados. Carrego meu paletó num ombro só e caminho pela rua
deserta em direção ao centro de Ponta Grossa.
Marlene Castanho
ResponderExcluirOlha eu aqui, de taça em punho... Tintim a Baco! Tintim às uvas e seus produtores! Obrigada ao Vinho kkk e...,tintim, Sueli Maria, e obrigada por compartilhar aqui conosco a sua crônica "Divagando".
Um brinde a você, Marlene! Obrigada por estar sempre aqui com seus comentários positivos.
ResponderExcluirBelíssima crônica! Interessante que o personagem que divaga ficou só, a festa acabou, todos foram embora menos ele que aproveita o último vinho da noite. E nessa divagação toda apresenta a nossa feira da uva com todas suas goloseimas e frutos, tão ricos em significados. Adorei ler sua crônica e rememorar a festa da uva. Parabéns Sueli, grande autora. Um abraço e até outras histórias!!!
ResponderExcluirBelíssima crônica! Interessante que o personagem que divaga ficou só, a festa acabou, todos foram embora menos ele que aproveita o último vinho da noite. E nessa divagação toda apresenta a nossa feira da uva com todas suas goloseimas e frutos, tão ricos em significados. Adorei ler sua crônica e rememorar a festa da uva. Parabéns Sueli, grande autora. Um abraço do Luis Fernando e da Regina, e até outras histórias!!!
ResponderExcluirAté outras histórias!! Continuo produzindo e quiçá nos encontremos novamente aqui.
ExcluirSueli, parabéns pela sensibilidade e excelente produção desta crônica! Um brinde ao seu talento, com o melhor vinho!
ResponderExcluirVamos trocando carinhos uma no trabalho da outra e isto é enriquecedor. Leio seus textos e aprecio sua criatividade.
ExcluirEste texto foi lido por vários amigos que não deixaram seu comentário registrado mas que gentilmente o fizeram através de canais alternativos. Agradeço à Cristina, Priscila, Marizete, André e Gicele.
ResponderExcluirSensacional, você usou um narrador masculino!! Suas crônicas sempre me encantam, suas palavras me fazem ver o que está contando. Parabéns, querida tia!
ResponderExcluirSegundo um leitor, um homem elegante e de bom gosto. Imaginário de cada um. Obrigada pelo carinhoso feed back.
ResponderExcluir