Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa.
Publicado no Diário dos Campos em 19/08/2020 e no Correio Carambeiense em 22/08/2020, lida na CBN Ponta Grossa em 30/10/2020 e no Blog Mareli Martins em 28/08/2022.
Viver ao ar livre é viver em plenitude. Eram recorrentes aqueles passeios em família sempre buscando lugares abertos. Nos acostumamos ao contato com a natureza nos piqueniques de fim de semana. O lanche artesanal era preparado com carinho pela mãe.
Havia um lugar aprazível em Ponta Grossa que meus
pais usavam para relaxar com as crianças. Ali tinha o que mais gostávamos: água
de rio e liberdade. Poucas ruas estavam abertas no nosso bairro. Caminhávamos
pelo campo, respirando ar puro, por cerca de dois quilômetros até um terreno no
final da Avenida Anita Garibaldi, cercado de arame farpado, por onde
adentrávamos a uma propriedade particular. Um “mata burro” evitava a saída dos
bovinos criados naquele espaço. Passávamos por ali, um a um, requebrando o
corpo.
Quando
entrávamos naquele terreno a liberdade era total e irrestrita. Os pais
carregavam as cestas do lanche e nós corríamos pelo campo como se não houvesse
amanhã. Eu colhia flores silvestres de diferentes matizes que, dentro de um
vidrinho com água, seriam a decoração da toalha xadrez. Os meninos procuravam
arbustos rasteiros de fruta: pitanga, araçá ou gabiroba, que a mãe apreciava. E
eram muitas!
Ao final de uma ravina, o riacho de água fresca e
cristalina corria em meio a pedras de variados tamanhos. Uma enorme plataforma
de pedra natural por sobre parte do riacho era denominada Ponte de Pedra.
Majestosa! Imponente! Depois das brincadeiras na água, secávamos o corpo na
pedra aquecida pelo sol. Uma obra da natureza que estava ali havia milhares,
quiçá milhões de anos e sempre nos acolhia. Capões de mato circundavam o
riacho. Sob a sombra de uma árvore, hora do lanche! Todo consumido pela fome
aliada à vontade de comer.
Na volta era necessário passar por entre os bois
que ocupavam o pasto e somente eu sentia medo deles! Meu pai desviava a atenção
do gado, ia administrando e, enquanto isso acontecia, passávamos para fora da
cerca em segurança, sem enroscar nas farpas.
Quanta saudade aquele cenário desperta em mim! Saudade dos meus pais que já se foram! Do livre ir e vir que
a pandemia reduziu! Fecho os olhos e ouço nossos risos, o murmúrio da água.
Sinto a brisa, o cheiro do mato e a vibração energética daquele lugar impressos
na memória. Sons e imagens da infância saudável vivida em Ponta Grossa, minha
querida cidade natal.
Marlene Castanho
ResponderExcluirA inocência, na infância, conduzida e amparada com zelo e amor, é primordial para que a magia da vida se manifeste... Todo adulto q teve o privilégio de passar por essa fase (quando tudo é maior e de um colorido muito mais expressivo),sabe bem o que significa essa abordagem de "Ponte de pedra". Sueli, o saudosismo e um sinal de que a memória está ótima... E que continue assim, ativa, inventando e se distraindo com o que a vida oferece... Daqui a pouco vais concluir que, apesar da Pandemia, o presente do existir veio carregado de possibilidades muito interessantes... E obrigada por nos presentear com mais essa crônica. Parabéns!
Marlene, a infância tem um sabor especial que a nada se compara,experiências que só ela nos proporciona.É desse sabor que, quando adultos, sentimos saudade. É um bálsamo ler suas palavras tão sábias e carinhosas. Obrigada por tudo o que com elas acrescenta ao meu ser.
ExcluirLindas lembranças, Sueli! A memória da infância sabe onde ficam os cenários mais encantadores.
ResponderExcluirExatamente isso, Rosicler. Cada um sabe em que cantinho do seu coração estão as mais queridas recordações, entre elas as da infância que são marcantes. Obrigada.
ResponderExcluir