Texto de autoria de
Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa.
Publicado na Folha Paranaense em 14/08/2020, lido na CBN Ponta Grossa em 02/09/2020, postado no Portal aRede em 16/09/2020.
Quando uma criança de
dez anos de idade era somente uma criança que ainda brincava com bonecas. Bons
tempos aqueles! Infantil, porém responsável, aquela menina termina o curso
primário com louvor. Participa do concurso de melhor aluno da cidade daquele
ano, promovido pelo Rotary. Pais orgulhosos. Valeu-lhe um guarda-roupa novo e
uma viagem a São Paulo. De trem. Segunda classe. Longas horas em assento de
madeira, duro como pedra. O sol nascia e dormia e a viagem prosseguia. Mesmo
assim, o melhor presente do mundo! Aquele era somente o primeiro passo na
avenida infinita do estudo com destino ao conhecimento e ao saber.
Nos anos despreocupados da infância,
sempre brincara no parquinho da praça e admirara aquele casarão. Devia ser um
colégio de gente grande! Ela era um “tiquinho” de gente. Tudo lhe parecia
grande.
O Colégio Regente
Feijó seria o próximo desafio de sua vida. Com o livro “Programa de Admissão”
nas mãos, lançou-se ao seu primeiro vestibular, o Exame de Admissão ao ginásio!
Borboletas no estômago! Trinta gotas de Maracujina! Uma sondagem de aptidões
lhe aguardava. Supervisores observavam todos os movimentos das crianças.
Situação inédita, nunca antes vivenciada, competição acirrada. Uma seleção que
representava o início de um novo ciclo. Uma reprovação seria uma punhalada em
sua personalidade perfeccionista.
Choro, ânsia de
vômito, vertigens. Desatara os nós da prova escrita, porém o temido teste oral
ainda estava por vir. Os examinadores postados pareciam figuras
fantasmagóricas. No seu olhar aterrorizado pela ansiedade, via lençóis brancos
em suas cabeças e foices cortantes em suas mãos. Mais uma dose de calmante e
afinal o resultado: aprovada!
O pai, trabalhador,
fechou sua oficina e esperou-a na praça. Temia o trote aos novatos. Vã
preocupação. Os veteranos foram complacentes.
Blusa branca e saia
azul-marinho pregueada enrolada na cintura para encurtá-la. A baliza e a
fanfarra faziam o show nos desfiles cívicos.
Na calçada, ambulantes estouravam pipoca enchendo o ar com aquele
cheirinho que entrava pela janela e acordava a fome de fim de tarde.
O Regente Feijó,
monumento educacional público, é testemunha muda de mil histórias. Milhares de
alunos passaram por seus bancos. Bem preservado em sua estrutura física, mostra
caminhos para que cada um costure seu sonho e encontre o fio de sua própria
história.
Marlene Castanho
ResponderExcluirTive o privilégio de estudar no Colégio Regente Feijó. E ainda hoje, quando passo pelas proximidades, meus olhos se voltam para o prédio e sinto uma inexplicável saudade... Sueli Maria, obrigada por compartilhar aqui este "Meu querido colégio"; confesso: é meu querido também...
Olá, Marlene. Nosso querido colégio foi importante para nós e o será para várias gerações que se também se orgulharão dele. Obrigada pelo comentário sempre carinhoso.
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